terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Family Life

Ultimamente, tenho-me apercebido que não é fácil viver em familia. Isto piora quando estamos em casa e somos mulheres. Como diz a minha amiga Pi, "quando estamos em casa, passamos a ser uma espécie de moço de recados, e se nos recusamos ouvimos logo:«Estás em casa!!!»". E pronto, passamos a ter de fazer tudo o que nos pedem, levar e ir buscar toda a gente a todo o lado, ajudar aqui, ir às compras dali and soyon and soyon.
Têm sido assim os meus dias, a correr de um lado para o outro e a desempenhar múltiplas tarefas ao longo do dia, sem que sobre tempo para mim. Aquele tempo de qualidade para ler um livro ou para estar deitada a olhar para o tecto. E não é quando estou a adormecer. É quando quero. Há sempre algo que me impulsiona para o secundário quando se trata do meu próprio desejo e bem estar. Lá vou tendo tempo para o creme hidratante após o duche e isso faz maravilhas, como sabem as minhas amigas mais próximas.
Além de toda esta azáfama há outra coisa que me tem deixado de testa enrugada e com alguns amargos de boca com o criador, seja ele shiva, shintô, tao, deus, zeus ou um simples micróbio. Ver a minha mãe a envelhecer.
É muito triste vê-la perder capacidades locomotoras por motivos de saúde. Mas além das dores, que também sinto indirectamente, pois pareço sentir um prolongamento do seu sofrimento ( estranhamente), custa-me perceber que a sua capacidade de lembrar já não é a mesma, que se enerva com quase nada, que está triste por não se sentir bonita, que tenho de a deixar ter razão de vez em quando para se sentir mais feliz. Tudo isto me entristece.
No entanto, há uma coisa que lhe ilumina o rosto e a alma, que a faz dar saltinhos( mesmo que aos ais), que a faz acordar memórias, e até, ser mais tolerante. O neto. O neto fá-la esquecer de tudo o que não lhe faz falta. As dores, a dificuldade em se mover, a falta de paciência, a imagem ao espelho e até a balança. Tudo fica mais leve por ele, por causa dele. Ele brinca com ela desenhando-a em papel e fazendo-a rir à gargalhada com as representações da sua figura, apesar de alguma crueldade infantil, lê-lhe histórias de óculos no nariz, constrói cidades com os legos, ajuda-o com os puzzles, compra-lhe livros com actividades didácticas para crianças mais velhas que ele... Ele, retribui comendo as suas sopas e esparguete à bolonhesa, dizendo que está "delicioso, vó!"( palavras que não usa para a mãe eheheh), dando-lhe a mão com obediência e caminhando ao seu ritmo. E rindo sempre muito cúmplices, partilham.
Com eles e por eles cá vou fazendo os recadinhos todos como uma filha/mãe bem comportada/competente, e sempre com um sorriso na cara, apesar de me apetecer arrancar os meus cabelos, por vezes.

3 comentários:

  1. LooooL

    Os Netos foram e são a alegria da casa dos avós!

    Foi o meu avó que me ensinou a empatar anzol!
    Foi ele que me ensinou a cantar a Severa!

    Beijinhos dos Netos aos avós!

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  2. Pronto, já me fizeste chorar... satisfeita? Que doce de texto. Mães e filhas, avós e netos, temas que me são muito gratos e sensíveis, e espelham os amores verdadeiros que tive e tenho na minha vida. Aqueles amores que aquecem para sempreos nossos dias frios e nos dão sentido de pertença e partilha. Adorei este post, mocinha de recados ou princesa, escreves com a alma que tens: grande. Bjos

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  3. Nunca vou perdoar ao avô do Mirovitch, tê-lo ensinado a cantar a Severa! Que visão do Inferno! LOL

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